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quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Justiça e ética, bens cada vez mais raros.


Não sei porquê…ou até sei…mas os recentes casos de corrupção, divulgados publicamente, levam-me a uma pergunta: porque é que pessoas, com cargos de responsabilidade, com visibilidade pública, que, só em função dos cargos que exercem, vivem muito acima das possibilidades do comum dos mortais, se envolvem nas malhas da corrupção para aumentarem um pecúlio já de si generoso?

Claro que sei que existe uma justiça selectiva que alimenta inadmissíveis fugas de informação, muitas vezes para desviar as atenções de outros corruptos de tendência diferente e alimentando, mais do que a procura de justiça, um certo desejo populista e mórbido de justicialismo….

Mas, nãos sei porquê…,ou até sei..., mas estes tristes casos de corrupção fizeram-me recordar uma história, que aqui vou revelar.

Existiu um homem que, nunca pactuando com as injustiças deste mundo, acabou por estragar a sua vida e acabou preso dois anos por razões politicas e por denunciar e combater essas injustiça.

Esse homem refez a sua vida numa terra que lhe era estranha, que até desconfiava do “estrangeiro”, mas a sua personalidade, de homem culto, activo, preocupado com os outros, um bom profissional, um contabilista honesto e de confiança levaram a que a sua personalidade se impusesse e se tornasse uma pessoa considerada, mesmo pelos seus adversários políticos.

Bom profissional, desempenhou funções de responsabilidade na maior empresa do concelho, sendo requisitado por outras empresas da região para, em part-time, organizar a contabilidade de muitas dessas empresas.

A sua honestidade levou a que, apesar das suas funções de responsabilidade, nunca tenha vivido acima das possibilidades médias de um cidadão desses tempos difíceis, sujeitos à miséria generalizada e a uma ditadura que impedia qualquer oposicionistas de conseguir singrar profissionalmente.

Como ele era um contabilista encartado, a sua assinatura tinha valor legal e era fundamental para algumas actividades fiscais e financeiras.

Um dia alguém o abordou. Era preciso a assinatura de um contabilista encartado para fechar um negócio legal. Só que esse negócio era uma venda de armas para África.

Em troca da assinatura, num processo que era legal, esse homem receberia o equivalente nos nossos dias a um valor que dava para comprar uma casa (ele que vivia em casa alugada), um automóvel (ele que se deslocava a pé) , para umas grandes férias com a família (ele que só saiu uma vez do país para ir  Madrid e que passava férias com a família numa praia a pouco mais de dez quilómetros da sua habitação) e ainda sobrava algum dinheiro.

Mas o negócio era contra os seus princípios, o seu pacifismo , a critica que fazia à guerra como principal factor de injustiça e maldade, tudo o que ele abominava e sempre tinha combatido.

Por isso recusou-se a assinar. Quem o abordou para o negócio tentou insistir, argumentando que o negócio fazia-se à mesma porque, se ele não assinasse, outro qualquer contabilista  assinaria, ganhando aquela quantia.

Ele manteve-se firme, continuou a viver de forma “remediada”, como então se dizia da vida das classes médias, mas morreu com a sua consciência tranquila.

Não sei porquê…ou talvez saiba…mas sempre que surgem estes casos de corrupção  e de falta de ética económica e social, recordo-me sempre daquela história..

Ah….o homem que referi acima…é meu pai!


1 comentário:

Joaquim Moedas Duarte disse...

O dinheiro tem um poder de atracção quase invencível.
Sim, teu pai. Fizeste bem em recordar...